Para o filósofo coreano Byung-Chull Han nossa sociedade está pagando um preço por nossa crescente preocupação com a informação (hiperinformação) e comunicação (hiperconectividade). Há para Han uma busca por mais informação sem algum conhecimento real. Há uma comunicação em excesso sem qualquer participação numa comunidade real. Essa realidade contribui para aquilo que descreve como perda de contato com a magia das coisas. Não à toa que sua obra intitula-se Não Coisas.
Mas por que o uso das não coisas, quando nossa proposta é falar de comportamento financeiro? Essa introdução cabe como referência ao atual modelo de pagamento que nossa humanidade experenciou. Ou seja, conforme sua idade, você já teve oportunidade de manusear cédulas ou moedas como forma de pagamento. Era uma época que as carteiras tinham “compartimentos” para as cédulas (papel) ou para as moedas (metal), além de espaço para nossa documentação.
Então num processo de compra estávamos gastando dinheiro. Víamos uma determinada quantia literalmente sair de nosso bolso (da carteira) em direção à gaveta da “caixa registradora” do comércio. A ciência comportamental, aquela que tem interesse em entender como lidamos com o dinheiro, percebeu que tínhamos uma dor, a “dor de pagar” sempre que desembolsamos uma quantia de dinheiro ou moedas, quer seja ela direcionada a uma compra útil e satisfatória quer seja algo sem muita utilidade. As evidências acadêmicas dão conta que nosso cérebro ativa algumas respostas químicas que provocam desconforto (daí a ideia de “dor de pagar”).
Mesmo para a ideia inicial do cartão de crédito, tinha um pouco dessa sensação. Afinal, nós o entregávamos ao lojista, que o passava por uma máquina munida de papel carbono, emitindo três vias de comprovação da venda, assinadas pelo titular do cartão. Ao final do pagamento recebíamos o plástico de volta para guardá-lo na carteira (agora adaptada com compartimento próprio).
Mas, voltando a ideia de Byung-Chull Han, perdemos a magia das coisas (cédulas, moedas e os primeiros cartões de crédito) com a introdução de modos meios de pagamentos “mais abstratos”. Com eles, cartões magnéticos com chip e a partir da internet cartões virtuais. Ou seja, ao perdemos contato com as coisas, perdemos a sensação de estar gastando.
Para o professor Dan Ariely, o impacto dos meios de pagamento digitais provoca sérias mudanças de comportamento de consumo. Usando os mesmos, geralmente gastamos mais, fazemos mais compras e deixamos gorjetas mais altas. Isso porque aquela sensação ou “dor de pagar” é anestesiada pelas não coisas.
Agora, diante desta exposição, não podemos dizer que os meios digitais, incluindo o cartão de crédito, são vilões e devem ser “eliminados” da sociedade. O que vale é você perceber como é sua relação com o cartão de crédito. Se ela diminui a “dor de pagar” o melhor a fazer é, evitar o seu uso. Inevitavelmente, com o tempo nosso autocontrole aumenta. Enquanto isso, guarde seu cartão para situações de extrema emergência.
Espero que tenham gostado.