Em recente reportagem do Valor Investe o Tesouro Educa+, título do Tesouro Direto criado pelo governo federal para financiar estudos de crianças e adolescentes, encerrou os 12 primeiros meses em funcionamento com saldo de mais de 74 mil investidores, majoritariamente homens, com aplicação média mais elevada entre os mais velhos.
Ainda a reportagem diz que nos balanços publicados pelo Tesouro Nacional, de agosto de 2023 (quando o título foi lançado) até julho de 2024, a faixa etária considerada público alvo do papel, de até 24 anos, não passou dos 12%.
Então, a partir da reportagem cabem algumas discussões já expostas neste blog em outras postagens.
A primeira delas é sobre a formação de poupança. Em uma das postagens tive a oportunidade de citar meu livro Proteja-se de você mesmo e bata o mercado de ações no longo prazo, pois nele trago contribuições sobre a formação de poupança. Assim, os motivos discutidos pelos economistas clássicos eram dois.
O desejo de acumulação (formação de poupança) era o motivo de herança e a propensão de exercitar o autodomínio, sendo este último representado pelo grau dos nossos poderes intelectuais, e a consequente prevalência de hábitos de reflexão, e prudência.
Depois disto, também tive a oportunidade, a partir do meu outro livro Tenhas Modos com o seu Dinheiro (Editora Ciência Moderna, 2009), de apresentar no Capítulo 6 o Ciclo de Vida e Poupança dos professores Modigliani e Brumberg. Os professores forneceram a base do que seria chamado de Hipótese do Ciclo de Vida e Poupança, descrevendo o processo de acumulação e “desacumulação” dos recursos financeiros ao longo de nossa vida.
Não há nada de errado, na definição de um modelo, definir alguns pressupostos (embora na vida prática eles não possam ocorrer). De outra forma, é importante ter um modelo que possa orientar ao contrário de não ter modelo algum. Logo, para os autores do artigo Utility Analysis and Aggregate Consumption Functions, a renda apresentava-se constante por um período anual N de trabalho, caindo a zero após alguns anos. E que durante esse período N havia necessidade de estabelecer a poupança (postergação de consumo, pois quando você não consome, você poupa).
Não tive ainda a oportunidade de comentar sobre “Por que não ganhamos na Bolsa de Valores”. Em algum momento, naturalmente isso seria possível e, o tema Tesoura Educa+, serve como referência para isso.
Há no livro, no capítulo 4, uma discussão sobre o autocontrole (isso não parece lembrar a propensão de exercitar o autodomínio, indicada pelos economistas clássicos?). Nele trago a contribuição do economista Richard Thaler, citando inclusive o artigo Save More Tomorrow: using behavioral economics to increase Employee Saving (2004). Isso porque a classe média americana (foco da pesquisa dos autores) realizava poupança através dos planos de previdência e casa própria (visão dos entrevitados) mas para o autor da pesquisa havia necessidade uma participação mais ativa.
Neste sentido, acredito que o Tesouro Educa+, alinhado com a ideia de um “paternalismo libertário” do plano Save More Tomorow, buscou que os investidores fossem mais ativos. Embora no programa Save More Tomorrow, realizado nos EUA, a inscrição no plano (aumentar a contribuição com os aumentos de renda) dos trabalhadores era padrão. Caso eles (trabalhadores) discordassem, deveriam preencher um formulário (a psicologia indica uma certa letargia nossa em cancelar planos).
Não há dúvida que o plano é referência nos EUA permitindo uma correção no nosso comportamento (ou daqueles com pouca prudência) aumentar sua participação e ter formação de poupança.
A reportagem citada é mais abrangente (vale a pena ter aceso), inclusive citando do ponto de vista financeiro algumas desvantagens em determinadas situações. No entanto, no geral, é uma perfeita iniciativa do governo federal para estimular a formação de poupança da juventude. Fazer aportes num intervalo de tempo para, no futuro, usufruir de determinados saques para “capacitação”.
Espero que tenham gostado.
