Sociedade do cansaço e a capacidade de conter impulsos: detalhes para formação de poupança

No livro Sociedade do cansaço há uma discussão sobre a passagem de uma sociedade disciplinar para uma sociedade do desempenho. Dentro desta discussão há espaço para aquilo que o autor definiu como Pedagogia do Ver. Para isso, o mesmo cita Nietzsche e as três tarefas fundamentais para os educadores, a saber: Ensinar a ler; ensinar a pensar e ensinar a falar.

A meta das três tarefas seria ensinar a ver, ou seja, habituar nosso olhar ao descanso, à paciência ao deixar “aproximar-se de si”. Logo tanto Nietzsche como Byung-Chul Han (autor do livro) trazem uma narrativa da contemplação. Mais importante, esse apreender a ver seria a pré-escolarização para o caráter.

O que Byung-Chul Han quer contextualizar é o saber ver no sentido de apreender a não reagir IMEDIATAMENTE a um estímulo, mas tomar o controle deles. Logo, reagir de imediato e seguir todo e qualquer impulso seria uma doença, uma decadência e por não dizer um esgotamento.

Então a vita contemplativa oferece resistência aos estímulos no sentido de que saber dizer não é mais ativo que qualquer hiperatividade advinda da sociedade do desempenho, até porque este última pode ser sinal de esgotamento. Embora a discussão seja de outras relações e não especificamente a financeira é inevitável não associar que o desempenho e o esgotamento tem inibido a capacidade contemplativa.

Em outros posts já tive oportunidade de relacionar as experiências dos economistas clássicos sobre a formação de poupança. Embora sejam discussões teóricas, os clássicos contribuem ao afirmar que dois principais fatores promoveriam o desejo de acumulação: o motivo de herança e a propensão de exercitar o autodomínio, sendo este último representado pelo grau dos nossos poderes intelectuais, e a consequente prevalência de hábitos de reflexão, e prudência.

Em contrapartida, os motivos limitantes para essa acumulação eram a incerteza da vida e a nossa empolgação para o consumo imediato (hoje, já podemos acrescentar o esgotamento).

Não há duvida que o aprendizado é fundamental para que possamos contemplar, ao contrário de reagir por impulso. Algo relacionado à capacitação.

Então, neste sentido, capacitar jovens estudantes constitui desafio para as instituições públicas de ensino (e até privadas), mas não podemos esquecer dos idosos. Acreditar que a juventude é a principal referência foi no passado uma preocupação advinda da menor expectativa de vida. Atualmente, com o aumento dela os jovens e os idosos devem apresentar um olhar contemplativo.

Nas lições de Byung-Chul Han uma atividade mecânica é pobre em interrupções. O próprio computador não apresenta capacidade para hesitar. E no fluxo da sociedade de desempenho em que é permitido o doping para uma melhor execução de tarefas perde-se a reflexão.

Espero que tenham gostado.

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