Os livros textos em finanças explicam que os investidores, a partir de suas preferências por um maior volume de riqueza ou não, são caracterizados como avessos ao risco, neutros em relação a ele, além de terem gosto por risco.
De maneira simples, ser avesso ao risco é dizer que o investidor rejeitará uma “aposta justa”.
Ser neutro ao risco é ser indiferente a aceitar ou rejeitar uma aposta justa.
Gostar de risco é dizer que o investidor aceitará uma “aposta justa”.
Mas o que seria para a literatura uma aposta justa? Supondo que o investidor tenha que pagar uma unidade monetária para fazer um investimento em que as probabilidades são de 50% de perder tudo (não ganhar nada) e 50% de ganhar duas unidade monetárias, a opção de investir seria representada por uma função 0,50×2 + 0,50×0 = 1. Logo, se rejeita uma aposta justa é avesso, se é indiferente a aposta justa é neutro e se aposta numa “aposta justa” gosta de risco.
Logo, são essas as maneiras que os investidores são caracterizados pela literatura.
Uma contribuição que não deve ser esquecida (faço esse comentário no livro Por que não ganhamos na bolsa de valores?) é a do economista americano Frank Knight que, em 1972, explicou que a diferença entre risco e incerteza é dada pela condição de termos ou não, respectivamente, uma distribuição de probabilidades associadas ao resultados dos eventos. Faço tal comentário para dizer que, de modo geral, os investimentos em ativos com risco, apresentam uma distribuição de probabilidades.
Mais do que isso, ter uma distribuição de probabilidades permite que, através de uma combinação de ativos com risco de diferentes distribuições, parte do risco seja reduzido. O primeiro trabalho sobre o assunto foi realizado por Andrey Roy na década de 50, Na mesma década é o trabalho de pesquisa de Henry Markowitz que fornece a todos nós uma ferramenta para tomada de decisão de forma que o risco seja reduzido. Logo, aqueles que gostam de uma “aposta justa” podem se beneficiar em suas “apostas”.
Esquecendo o clássico conselho “anedótico” de um rabino que afirmou que temos que ter 1/3 de nossa riqueza em terras, outro terço em bens e mercadorias e um terço na mão, como alternativa de simplificar a parcela dos investimentos a serem feitos, a diversificação exige algumas ferramentas (já disponíveis) para definir o quanto de nossa riqueza deve ser destinada a determinado investimento.
Tudo isso é pano de fundo para discutir a reportagem da Valor Investe sobre os tipos de “perfis” de investidores no Brasil. A reportagem explica que foram foram entrevistados 2.614 brasileiros, acima de 18 anos, de todas as regiões do país, das classes A, B e C com algum tipo de investimento, tanto em renda fixa quanto em renda variável, entre 13 de setembro e 25 de outubro de 2023.
De maneira didática os investidores foram definidos em:
- 1) Foco em Previsibilidade
2) Portfólio (conjunto de ativos financeiros) montado
3) Sofisticados no Investimentos
4) Em busca do Tesouro
5) Experimentando a bolsa
6) Minha conta é meu investimento
7) Fundos imobiliários
8) Swing trades
9) Day traders
Então, os investidores, a partir de comportamentos definidos, foram perfilados em categorias. A iniciativa é nobre e, através dela podemos conhecer como os investimentos são realizados. O que tenho discutido nos últimos anos é sobre a importância do gestor de investimento. Não sabemos como esses investidores são orientados. Quais as informações (num mundo da hiperinformação) são consideradas e quais expectativas os mesmos têm sobre os investimentos.
Com um pouco de paciência e melhor compreensão de cada perfil possivelmente poderia dizer que gostam de risco, são indiferentes ou são avessos. Não sei, talvez eu esteja contaminado pela ideia de que a alta exposição e a necessidade de renovação de informação nos faz mal (Sociedade do Cansaço), acabo preferindo me deter tão somente nos três perfis iniciais.
Espero que tenham gostado.
