John Keynes, o longo prazo, formação de poupança e o relatório da Mais Retorno

Há uma clara preferência pelo curto prazo. Se você esquecer um pouco do mercado financeiro e começar a perceber que a grande tendência é a celeridade das soluções verá uma série de serviços que prometem respostas rápidas aos problemas diários. Isso passa por cursos de idiomas, lavagem de carro e refeições, “demonstrando que já temos tempo para quase tudo”, o que soa como uma ironia.

Não há um certo exagero nesse discurso professor? Não há exagero al­gum, apenas preciso lembrar da existência do longo prazo e, mesmo que decisões sejam tomadas no curto prazo, o conjunto desses períodos com­põe o longo prazo. Embora “o mercado de ações seja de longo prazo” é de conhecimento público que os investidores comuns sofrem com as oscila­ções de curto prazo.

Já tive oportunidade de “palestrar” sobre esse tema e a grande discussão (cereja bolo) foi quando um dos participantes disse: “No longo prazo, estaremos todos mortos” numa tentativa de questionar a preocupação com o longo prazo. Não só devemos a gerações futuros garantias de sobrevivência como nos foi dada pelas gerações anteriores bem como essa clássica frase (do economista Keynes) referia-se tão somente ao alerta de abandonar o padrão ouro e evitar uma depressão. Ou seja, nada contra formação de poupança, embora essa frase possa usada de maneira equivocada quando o assunto é formação de poupança.

Mas a economia tem se preocupado com a forma como nos comportamos no curto e longo prazos, e a psicologia também foi importante para com­preender este comportamento.

Uma demonstração empírica sobre nossa preferência pela realização de nossos compromissos foi conduzida, em 2002, pelo professor em psicolo­gia cognitiva, Dan Ariely, e pelo professor de marketing, Klaus Wertenbro­ch, sem levar em consideração recursos financeiros.

No experimento realizado com estudantes de educação executiva (curso de gestão) os mesmos tinham que escrever três pequenos ensaios e foram designados a uma das duas condições. Na primeira condição, os prazos para os três en­saios seriam definidos pelo professor e uniformemente espaçados durante o semestre. Na segunda condição, cada estudante poderia estabelecer seus próprios prazos para cada um dos três ensaios. Em ambas as condições, a penalidade por atraso era de um por cento por dia de atraso, independente do prazo ser definido pelo professor ou pelo próprio estudante.

O experimento relata que muitos escolheram, de fato, impor prazos por conta própria, sugerindo que eles apreciavam o valor do compromisso. Assim, poucos estudantes escolheram os prazos uniformemente espaçados. No entanto, aqueles que não tiveram o pior desempenho no curso foram aqueles com prazos uniformemente espaçados, seja por definição do pro­fessor ou imposto por conta própria, em relação àqueles que escolheram como prazo de entrega o final do semestre.

Isto reforça a ideia de que temos menor cuidado com os compromissos futuros e maior cuidado com os compromissos presentes. Isto quer dizer que a impaciência pode impedir os planos de longo prazo. A literatura so­bre nossa impaciência está repleta de outras situações que confirmam nossa preferência pelo imediato.

Mas além de outros experimentos, posso citar relatório recente da Mais Retorno sobre o comportamento dos juros, inflação e Bolsa de Valores. No relatório fornecido para 5, 10, 20 e 30 anos não existem dúvidas que os ganhos auferidos no longo prazo são superiores para investimentos em Bolsa de valores. Senão vejamos:

Comparativo de 5 anos:

IPCA: 33,03%

Ibovespa: 21,43%

Juros reais: -1,81% aa

Comparativo de 10 anos:

IPCA: 75,63%

Ibovespa: 140,38%

Juros reais: 3,19% aa

Comparativo de 20 anos:

IPCA: 202,26%

Ibovespa: 535,92%

Juros reais: 3,79%

Comparativo de 30 anos:

IPCA: 703,97%

Ibovespa: 3.272,90%

Juros reais: 4,90%

Novamente, insisto na necessidade de contratação de um gestor de investimento.

Nos falta, de modo geral, habilidade para gerenciar nossas carteiras de ações: um pouco de estatística, autocontrole e visão de longo prazo. Meu conselho: contrate um bom gestor e, antes de mais nada, sou tão somente um professor (adjunto) pesquisador, logo fique tranquilo que não vou comercializar nenhum curso para você enriquecer no mercado de ações.

Espero que tenha gostado.

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