Na busca, a todo custo, para capturar a atenção do espectador com todo tipo de malabarismo visual e cômico, no filme Jogo do Dinheiro, a nova investida da atriz Jodie Foster na carreira de diretora, a narrativa faz uso deste recurso.
Em Adoro Cinema, o crítico Francisco Russo explica que que Lee Gates, o apresentador encarnado por George Clooney, seja discípulo de Howard Beale – só que bem mais exagerado e plenamente consciente do que está fazendo, sem qualquer tipo de surto psicológico. Assim, Lee Gates, apresentador de um programa financeiro faz o possível para chamar a atenção do espectador: dança, se veste de boxeador, possui ajudantes de palco. No fim das contas, a informação financeira propriamente dita torna-se um anexo. Para o crítico de cinema trata-se de uma inversão de valores em relação a tudo aquilo que prega o jornalismo, algo constatado pela própria personagem de Julia Roberts, produtora do programa. Em uma sintomática conversa, ela sacramenta: “faz tempo que não fazemos jornalismo”.
Acontece que estamos expostos a algumas heurísticas e uma delas é a disponibilidade. Ou seja, avaliamos com as informações disponíveis (e esquecemos das taxas bases). Ao menos, uma parte do público também pensa assim e, de forma ingênua, acredita sem contestação no que é dito pelo programa de TV.
Diante deste cenário em que a diversão encanta e engana, o que poderia acontecer quando um dos deslumbrados expectadores, de repente, se revoltasse? Esta é a premissa do filme, trazida através da súbita invasão de um homem no programa ao vivo comandado por Lee Gates. O motivo? Ele acreditou numa de suas dicas financeiras e perdeu tudo.
A ausência da diversificação, que é útil para proteção ao risco (não colocar todos os ovos na mesma cesta) e a ilusão de ganhos rápidos e fáceis (imediatismo) foram a combinação perfeita para que todos os recursos financeiros fossem investidos numa única empresa. É a mesma coisa que tive oportunidade de discutir no meu livro Projeta-se de Você mesmo e Bata o Mercado de Ações no Longo Prazo (Editora Ciência Moderna). Temos uma tendência de acreditar no Cavalo Azarão e, somos facilmente enganados por promessas de ganhos fáceis e rápidos.
Para quem gosta de uma trama policial, embora com alguns exageros é um bom filme. Sobre as lições de finanças comportamentais fica evidente que devemos ter cuidado ao tomar decisões porque como somos frágeis em tomar decisões não sabemos diversificar, somos imediatistas, somos míopes e não enxergamos o futuro e ainda acreditamos no cavalo azarão.
Espero que gostem e bom filme.