Rebecca mora em Nova York e tem o sonho de trabalhar para uma renomada revista de moda. No entanto, não consegue essa façanha. Ao contrário, por conta de uma troca de cartas (endereçadas de maneira equivocada) ela consegue um emprego como colunista de uma revista financeira da mesma companhia (Poupança de Sucesso).
As primeiras cenas do filme são um convite ao consumo, enquanto Rebecca passeia pelas calçadas de Nova York os manequins, tentam ao seu modo, convencer a protagonista ao consumo.
Para a tão sonhada entrevista de emprego na Revista de Moda Rebecca requer um lenço. Cena especial é a “engenharia financeira” que ela faz para comprar o lenço (e confesso que embora cena de filme já presenciei no mundo real a compra de um brinquedo nesta modalidade), dinheiro e alguns cartões de crédito. Tudo parecia correr bem, até que um dos cartões foi rejeitado. Desesperada, Rebecca não respeita a fila de venda de cachorro quente e tenta ao seu modo trocar um cheque com o vendedor.
Aqui, cabe uma boa reflexão: no momento em que Rebecca tenta a negociação com o vendedor quem estava aguardando era Luke Brandom (Diretor da Revista Financeira), Para ter seu atendimento realizado ele acabou pagando os 20 dólares, mas não perdeu a oportunidade de explicar para Rebecca que custo e valor são coisas diferentes. Mas, o mais importante é que Rebecca comprou seu lenço azul.
Mesmo não conseguindo ser contratada pela revista de moda acabou sendo contratada pela Revista Financeira: um antagonismo, estar endividada (com o Sr. Dereck Smeath fazendo diversas cobranças) e ao mesmo dando conselhos financeiros. Há no filme, situações lúdicas, mas outras reflexivas, por exemplo, quando Rebecca, mesmo endividada, tenta justificar a importância de cada produto (racionaliza suas ações motivadas pela intuição e ou percepção, ou melhor, impulso).
Ao perceber, na etiqueta de um produto, a composição do mesmo, Rebecca acaba tendo um “insight” que a faz escrever uma coluna sobre o uso do cartão e de suas letras miúdas no contrato, que surpreende a todos. Logo, Rebecca ganha notoriedade e uma série de convites para televisão.
Recheado de humor e situações constrangedoras Rebecca consegue salvar sua pele. Antes de ser descoberta e ter que, com a ajuda de participantes dos Consumidores Compulsivos, vender todas as suas peças de roupas, ela decide comprar uma mala. Não é a toa que convites de viagens surgem. Aí, seria inevitável: uma cena clássica para aqueles que acompanham os pesquisadores em finanças comportamentais (Richard Thaler recomenda congelar literalmente o cartão de crédito para aqueles sem controle), ou seja, vale muito a pena ver a cena.
No resumo do filme, a coluna se transforma em um sucesso da noite para o dia, mas Rebecca está a ponto de arruinar sua vida e sua carreira por ser uma compradora compulsiva e estar endividada e inadimplente.
Mas somente isso? Não, há passagens sutis. Uma delas é quando Luke Brandom, ao escolher suas roupas para um evento, explica para Rebecca que não quer ser definido por roupas, marcas ou sobrenome de família (ele é o antagonismo da maldição social). Outra passagem sutil é que a simplicidade é importante, evitar vitrines e quando do momento da compra certificar-se se realmente aquele produto é necessário.
Como num conto de fadas, o que não acontece no mundo real. Luke decide trabalhar em sua própria revista com Rebecca e a protagonista encerra o filme tecendo algumas críticas ao cartão de crédito, inclusive que, diferente do seu namorado (Luke) ele não a rejeita, fazendo a alusão quando compras são canceladas por ultrapassarem o limite no cartão de crédito. No final do filme agora os manequins ainda que gesticulem para Rebecca o fazem com um sentimento de respeito e não mais um convite ao consumo.
Em resumo, não há mal algum no cartão de crédito. Acontece que, de modo geral, não estamos preparados para usa-lo. Para isso é necessário autocontrole. A sensação de gastos é mais efetiva com pagamentos em cédulas (também pode ser PIX) do que à prazo, quando perdemos de vista este valor. No final do mês uma fatura pode nos surpreender.
Logo, se você percebe que não tem autocontrole evite o cartão de crédito. Uma medida não tão drástica seria reduzir o limite do mesmo. Como não há uma receita de bolo, veja o que cabe no seu orçamento. Para meu alunos eu recomendo compras à vista.
Não é que ao assistir ao filme (2009) você terá as rédeas das sua vida financeira, mas a indicação vale mais para deixa-lo reflexivo.
Espero que tenham gostado.